Somos pedestres nascentes! Se prestarmos atenção, nossos primeiros passos foram comemorados pelos nossos pais e torcemos para que filhos, sobrinhos e netos consigam dar seus passinhos rumo a um novo caminho.
O que me deixa feliz, é ver algumas iniciativas como esta, do Matthew Shirts, além do texto intitulado “O inconformismo topográfico”, que colore bastante esse retorno ao “esporte dos poetas”. O que eu chamaria mais de prática dos vivos e sedentos por auto-conhecimento unida a sabedoria de observas as coisas em outro ritmo (mais natural), pois enquanto caminhamos (não por esporte), temos a oportunidade de andarmos em nossos sentimentos e memórias mais escondidas no inconsciente. Então… andamos e paramos de andar… Entramos em carros e enlouquecemos. O que é isso?
Sutil quando os comportamentos para bem-viver acontecem naturalmente. Escolhemos as coisas de maneira mais interior, não é que estejam desconectadas com o contexto de nossas vidas, mas se escolhemos simplesmente porque nos interessa é bem mais, como posso dizer, visceral. Implica que possa não ser por pressões externas apenas dos conceitos, estereótipos, ideologias ou obrigações éticas (estéticas), mas, antes de tudo, por razões mais íntimas, de nossa mente-espírito (sem grandes explicações).
Uma oportunidade de andar na superfície de nossas peles, as tantas que existimos, um universo de crenças, limitações e explosões que somos.
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Abaixo, seguem trechos de sua contribuição para uma revista de São Paulo:
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“As vantagens do automóvel são claras. É o pedestrianismo que precisa ser defendido…Vinha pensando em como promover o chamado esporte ‘dos poetas’ sem parecer antiquado ou convencido.
Vendi o automóvel e comecei a caminhar por São Paulo há alguns anos.
Não foi com o intuito de economizar dinheiro, nem emissões de carbono, tampouco pelo exercício físico, como se poderia pensar, embora sejam ganhos agradáveis da decisão. Não sou nenhum extremista… não aguentava mais ficar preso no trânsito. Sou impaciente. Sofro de faniquito em veículos paralisados. Alguns homens compram BMWs ou Mercedes ou Ferraris ao enfrentar a meia-idade. Eu vendi o Honda.
A certa altura, passei a chamar o conjunto de atividades realizadas sem automóvel de pedestrianismo. Não chega a ser uma ideologia, mas me serve bem como forma de levar a vida. O pedestre, garanto, aprecia mais a cidade. Enxerga todas as curiosidades de perto. Os tipos. As lojas. Os mercadinhos, padarias, bancas, livrarias, locadoras e restaurantes.
‘Os atos literários associados ao pedestrianismo romântico são pontuados por rebeldia‘, escreve um estudioso. ‘É a busca de um caminho desconhecido, um desvio do ordinário, o inconformismo topográfico.’
De acordo com os cálculos do poeta inglês Samuel Taylor Coleridge,
…William Wordsworth, o maior de todos os românticos, caminhou quase
300.000 quilômetros ao longo da vida. Os escritores americanos
Henry David Thoreau e Walt Whitman eram adeptos. … Entre os contemporâneos, Bill Bryson, autor de ‘Uma Caminhada na Floresta’, é dos bons, capaz de passar dias caminhando nas montanhas (o livro é ótimo, diga-se). Sem falar do meu amigo Reinaldo Moraes, responsável pelo festejado romance ‘
Pornopopeia‘. Ele já atravessou a pé a cidade de São Paulo em missão da revista National Geographic Brasil. Levou sete dias.
Se você me permite um palpite, esta será uma das principais tendências do futuro próximo: a redescoberta do prazer de andar a pé. Foi por isso, afinal, que descemos das árvores.”
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